1 de março de 2009

D.2.: Cultura Arte e Religião:FILMES

Ivanhoe(1952)
The name of the rose oficial trailer


Recortes do filme O Nome da Rosa mostrando características do período medieval.

Ficha Técnica

O Nome da Rosa
(The Name of the Rose)
País/Ano de produção: Fra/Ita/Ale, 1986
Duração/Gênero: 130 min., policial/suspense
Distribuição: Globo Vídeo ou Flashstar Vídeo
Direção de Jean-Jacques Annaud
Elenco: Sean Connery, F. Murray Abraham, Christian Slater.
Síntese do Filme: O Nome da Rosa
SINOPSE
Estranhas mortes começam a ocorrer num mosteiro beneditino localizado na Itália durante a baixa idade média, onde as vítimas aparecem sempre com os dedos e a língua roxos. O mosteiro guarda uma imensa biblioteca, onde poucos monges têm acesso às publicações sacras e profanas. A chegada de um monge franciscano (Sean Conery), incumbido de investigar os casos, irá mostrar o verdadeiro motivo dos crimes, resultando na instalação do tribunal da Santa Inquisição.
Desde o princípio, o ar que respiramos é o de um mosteiro encravado numa montanha, controlado pelos Beneditinos e que recebe a ilustre visita de monges Franciscanos.
A Regra de S. Bento foi formulada quando este era abade de Monte Cassino (no Sul de Itália), abadia fundada em 529 e que continua a ser um dos grandes mosteiros do Mundo. S. Bento foi o seu primeiro abade, e foi ele quem estabeleceu o modelo de auto-suficiência advogado pelas primitivas regras monásticas - dependência total dos próprios campos e oficinas que orientou durante séculos os mosteiros da cristandade ocidental.
A atmosfera sombria da localidade, o aspecto doentio de muitos dos frades que aparecem no decorrer da história, o tom escuro de muitas das sequências (efeito propositadamente trabalhado pelo competente director Jean-Jacques Annaud, do post já escrito sobre “A Guerra do Fogo"), a rejeição de conceitos considerados avançados por parte da grande maioria dos monges que circulam no mosteiro e a presença destacada da Inquisição a partir da metade do filme - tudo isto revela-nos um pouco do que foi a Idade Média.
Uma das maiores qualidades do filme está na reprodução da época, com a equipa de Annaud a ser assessorada pelo eminente historiador francês Jacques Le Goff, o que confere ao filme maior credibilidade no que se refere à utilização do mesmo como recurso didáctico.
O figurino, os cenários(o filme foi feito num autêntico mosteiro medieval), o ambiente, as músicas, os objetos disponibilizados e mesmo a fotografia em tons lúgubres (escuros, dando-nos uma impressão de humidade nos locais de filmagem) tornam-se referências para que possamos apresentar o domínio cristão medieval. A própria atmosfera de violência, muitas vezes bem patente, evidencia práticas correntes da época no relacionamento entre os homens - que a caridade cristã não conseguia conter -, ou até no relacionamento com as mulheres, como é mostrado no filme.
INTRODUÇÃO AO TEMA
A Baixa Idade Média (século XI ao XV) é marcada pela desintegração do feudalismo e formação do capitalismo na Europa Ocidental. Ocorrem assim, nesse período, transformações na esfera económica (crescimento do comércio monetário), social (projecção da burguesia e da sua aliança com o rei), política (formação das monarquias nacionais representadas pelos reis absolutistas) e até religiosas, que culminarão com o cisma do ocidente, através do protestantismo iniciado por Martinho Lutero na Alemanha em 1517.
Culturalmente, destaca-se o movimento renascentista que surgiu em Florença no século XIV e se propagou pela Itália e Europa, entre os séculos XV e XVI. O renascimento, enquanto movimento cultural, resgatou da antiguidade greco-romana os valores antropocêntricos e racionais, que adaptados ao período, entraram em choque com o teocentrismo e dogmatismo medievais sustentados pela Igreja.
No filme, o monge franciscano representa ou antecipa já um pouco a figura do intelectual renascentista, que com uma postura humanista e racional, consegue desvendar a verdade por trás dos crimes cometidos no mosteiro.
Contextualização
Discussão dos elementos formadores da cultura moderna, o surgimento do pensamento moderno, no período da transição da Idade Média para a Modernidade.
O Tempo
Trata-se do ano 1327, ou seja, a Baixa Idade Média. Lá se reencontram os ecos do pensamento de Santo Agostinho (354-430), um dos últimos filósofos antigos e o primeiro dos medievais, que fará a mediação da filosofia grega e do pensamento do início do cristianismo com a cultura ocidental, que está na génese da filosofia medieval, a partir da interpretação de Platão e do neoplatonismo do cristianismo. As teses de Santo Agostinho ajudam-nos a entender o que se passa na biblioteca secreta do mosteiro em que se situa o filme.
Doutrina Cristã
Neste tratado, Santo Agostinho estabelece precisamente que os cristãos podem e devem tomar da filosofia grega pagã tudo aquilo que for importante e útil para o desenvolvimento da doutrina cristã, desde que seja compatível com a fé (Livro II, B, Cap. 41). Esta concepção constituiria o critério para a relação entre o cristianismo (teologia e doutrina cristã) e a filosofia e a ciência dos antigos. Por isso é que a biblioteca tem que ser secreta, porque ela inclui obras que não estão devidamente interpretadas no contexto do cristianismo medieval.
O acesso à biblioteca é restrito, porque há ali um saber que é ainda estritamente pagão (especialmente os textos de Aristóteles), e que pode ameaçar a doutrina cristã. Como diz Jorge de Burgos, o velho bibliotecário, acerca do texto de Aristóteles – a comédia pode fazer com que as pessoas percam o temor a Deus e, portanto, provocar o desmoronamento de todo esse mundo.
Disputa de Filosofia
Entre os séculos XII e XIII regista-se o surgimento da Escolástica, que fornece o contexto filosófico-teológico das disputas que se dão na abadia em que se situa O Nome da Rosa. A Escolástica significa literalmente "o saber da escola", ou seja, um saber que se estrutura em torno de teses básicas e de um método básico que é compartilhado pelos principais pensadores da época.
Influência do Pensamento Clássico
A influência desse saber gira, em grande medida, em torno do pensamento de Aristóteles, trazido pelos árabes (muçulmanos), que traduziram muitas de suas obras para o latim. Essas obras continham um acervo de saberes filosóficos e científicos da Antiguidade que poderiam despertar interesse pela curiosidade e inovações científicas.
Consolidação Política
A consolidação política e económica do mundo europeu criava uma atmosfera favorável para que se sentisse uma maior necessidade de desenvolvimento científico e tecnológico: na arquitectura e construção civil, com o crescimento das cidades e fortificações; nas técnicas empregadas, nas manufacturas e actividades artesanais, que começam a desenvolver-se, e também na medicina.
Pensamento Aristotélico
O saber técnico-científico do mundo europeu era nesta época extremamente restrito e a contribuição dos árabes será fundamental para este desenvolvimento pelos conhecimentos de que dispunham na matemática, nas ciências (física, química, astronomia, medicina) e na filosofia. O pensamento agora (Aristotélico) será marcado pelo empirismo, pela curiosidade pela experimentação.
A Época
O enredo desenvolve-se na última semana de 1327, num mosteiro da Itália medieval. A morte de sete monges em sete dias e noites, cada um de maneira mais insólita - um deles, num barril de sangue de porco -, é o motor responsável pelo desenvolvimento da acção. A obra é atribuída a um suposto monge, que na juventude teria presenciado os acontecimentos.
Este filme é uma crónica da vida religiosa no século XIV, e relato surpreendente de movimentos heréticos. Para muitos críticos, o nome da rosa é uma parábola sobre a Itália contemporânea. Para outros, é um exercício monumental sobre a mistificação.
O Título
A expressão "O nome da Rosa" foi usada na Idade Média significando o infinito poder das palavras. A " rosa" de então, centro real desse romance, é a antiga biblioteca de um convento beneditino, na qual estavam guardados, em grande número, códigos preciosos: parte importante da sabedoria grega e latina que os monges conservaram através dos séculos.
Biblioteca do Mosteiro
Biblioteca do Mosteiro Beneditino de Admont na Áustria.
Durante a Idade Média uma das práticas mais comuns nas bibliotecas dos mosteiros era a de apagar obras antigas escritas em pergaminhos e sobre elas escrever ou copiar novos textos. Eram os chamados palimpsestos, livros em que textos científicos e filosóficos da Antiguidade clássica eram raspados das páginas e substituídos por orações rituais litúrgicas.

O nome da rosa é um livro escrito numa linguagem da época, cheio de citações teológicas, muitas delas referidas em latim. É também uma crítica do poder e do esvaziamento dos valores pela demagogia, violência sexual, os conflitos no seio dos movimentos heréticos, a luta contra a mistificação e o poder. Uma parábola sangrenta e irónica da história da humanidade, baseado no romance do mesmo nome de Umberto Eco.
Pensamento
O pensamento dominante, que queria continuar hegemónico, impedia que o conhecimento fosse acessível a quem quer que seja, salvo aos eleitos. Em “O nome da Rosa”, a biblioteca era um labirinto e quem conseguia chegar ao fim era morto. Segredo a que só alguns tinham acesso.
Trata-se de uma alegoria de Umberto Eco, que tem a ver com o pensamento vigente da Idade Média, dominado pela igreja. A informação restrita a alguns, poucos, representava dominação e poder; daí a designação de "idade das trevas", em que se deixava na ignorância todos os outros.
BIBLIOGRAFIA
Filme - O Nome da Rosa , Globo Filmes e Produções
Livro - O Nome da Rosa de Umberto Eco

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