27 de outubro de 2008

A.2. UMA CIVILIZAÇÃO DOS GRANDES RIOS: O EGIPTO

O LIVRO DOS MORTOS
O Livro dos Mortos, como ficou entre nós conhecido o conjunto de textos mortuários, mais de 200 fórmulas mágicas e hinos datados do Império Novo (1550 a.C.) até o período de dominação greco-romana (332 a.C.-395 d.c),. Encontrados sobretudo em Tebas, são geralmente conhecidos, em conjunto,como "a Recensão Tebana do Livro dos Mortos". Copiada pelos escribas desde 1600 a.C. até 900 a.C., aproximadamente; prestava-se de fato como receita a ser seguida pelas almas que adentravam no desconhecido. Antes, porém, destinava-se a instruir os "vivos", que, uma vez iniciados em seus segredos, poderiam melhor preparar suas almas para o derradeiro julgamento. Por isso, o título verdadeiro desse livro é outro; uma melhor tradução de seu nome seria "Saída para a Luz", isto é, para o dia, para o renascimento. Seus papiros eram comumente colocados junto ao corpo mumificado, sob a cabeça do cadáver, conforme o costume funerário egípcio. Outras vezes, passagens de seu texto sagrado eram transcritas nas câmaras mortuárias, principalmente sob a forma de recitações mágicas a serem proferidas pela alma em seus percalços no além.
O Livro dos Mortos evoluiu dos Textos da Pirâmide do Velho Reino - os textos funerários mais velhos do mundo. Esses encantos e rituais eram inscritos nas paredes da tumba de egípcios de alta classe apenas. No Reino do Meio estes segredos tornaram-se disponíveis para qualquer um que pudesse pagar um ritual de funeral e eram inscritos dentro dos caixões, para que as múmias "lessem". Eventualmente, os textos de caixão se transformaram no "Livro dos Mortos" que era bastante usado durante o Novo Reino.
O tema central da obra é o julgamento da alma do morto, ou melhor, a pesagem do seu coração, órgão associado à idéia da alma. O morto era levado por Anúbis até a sala do Tribunal, e se apresentava a Osíris e a mais 42 deuses. O coração era pesado numa balança pelo deus Anúbis, e Tot anotava os resultados. A deusa Maat, cujo nome significa "verdade", era o fiel da balança. Quase exclusivamente representada por uma pena de avestruz, ela se colocava sobre o outro prato da balança, a servir de contrapeso ao coração. Se este fosse mais pesado, a alma era considerada impura, e o cão Anúbis o atirava a uma terrível divindade híbrida, que o devorava. Caso seu peso fosse tão justo quanto a pena de Maat, a alma imaculada, triunfante, era então entregue aos cuidados de Osíris.
Destinavam-se a dar-lhe o poder de gozar ávida eterna, fornecer-lhe tudo o de que precisasse no Outro Mundo, assegurar-lhe a vitória sobre os inimigos, proporcionar-lhe o dom de conciliar as boas-graças de seres amistosos no além-Túmulo, ir aonde quisesse, quando e como quisesse, preservar intactos seus restos mumificados e, finalmente, permitir que sua alma atingisse o reino do divino Osíris, o vencedor da morte, que restitui a vida a homens e mulheres.
O egípcio piedoso, rei ou lavrador, rainha ou escrava, vivia com os ensinamentos do Livro dos Mortos diante dos olhos, era sepultado de acordo com suas instruções e baseava toda a sua espiritualidade e felicidade eternas na eficácia de seus hinos, orações e palavras de poder, que condensavam toda a doutrina da religião egípcia acerca de uma vida após a morte.
Até que pudesse se apresentar ao tribunal de Osíris, onde seria julgada em razão do que fora sua vida terrena, Bá, a alma (agora separada de Ká, o corpo), teria de sofrer árdua caminhada, cruzar 21 pilares, desvendar 15 entradas e passar por sete salas de provações.

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